Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

17 de novembro de 2011

A fonte de sangue: Charles Baudelaire

Muitas vezes parece jorrar o meu sangue
como uma fonte - então me sinto vago, exangue;
ouço-o como um murmúrio surdo em minha vida
mas me atormento em vão, sem achar a ferida.

Pela cidade inteira a escorrer, vai formando
sobre um campo fechado, ilhas de vez em quando,
e vai matando a sede a cada criatura
pondo em tudo o que toca uma rubra moldura.

Tenho pedido sempre aos vinhos capitosos
esquecer, por um dia, essa angustia tão rara,
- o bom vinho que à vista e que ao ouvido aclara.

E só no amor achei os sonos generosos,
mas o amor para mim a um leito em brasas, feito
para um sofrer cruel! E um inferno em meu peito!

Charles Baudelaire
(France 1821-1867)
Photo by Google

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